cidade

luzes gritam
dos carros
a porta do bar
ferve
uma canção
em idioma desconhecido
e nuvens de cigarro

entre as buzinas
e os semáforos
fumaça inalada
alvéolo impuro
   da cidade

e da cidade
em asfalto plúmbeo
ergue-se um anjo
cinza,
bélico,
rápido
mas piedoso
bêbado
e rouco
em suas artérias neon
seus balcões patíbulos

singelas luas de
60 watts
insistem em nascer
nos apartamentos
por voltas das
dezoito horas
e trinta minutos

- e eu que sou uma pequena janela,
e amo todoas as outras,
- diz o anjo...

verifico o pulso
a cidade calma ainda
percorre canos
e dutos
planos
viadutos

e engole o viscoso neon
a fumaça em idioma desconhecido

pequenas estrelas cadentes
solitárias fugidias
fingem pontas
de cigarros
nas sacadas pelos muros

a cidade engole a fumaça
a fritura
o óleo
a graça
o jornal nacional

aos poucos,
adormece,
enquanto piscam
monólogos
as luzes frias das tvs
os bares tossem
seus últimos estranhos
bêbados rápidos e loucos

o anjo rouco
alcança um velho jornal
que voou no vento
e tenta ler a cidade
antes de se cobrir.

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