retrato

esmalte colorindo
os dedos ágeis
a náusea
- querer fechar o olho
e abrir a porta da rua
os dois olhos da noite
espiam seu deserto lilás -
muitos papéis rasgados
algumas notas fiscais -
as quinas bordadas dos lençóis
- nos pinos das paredes pálidas
poetas paetês paratys
- viagens, baby, viagens

noite adentro
fumou a noite
inalou todo o frio da chuva
adoeceu de fome de vida
- incurável -
e, pálida,
busca debaixo da unha
certo sonho velho gasto
que possa ser recuperado
- e entorna-o tenso sobre a mesa de cirurgia
Adensa os dedos nos cabelos
cata aquela idéia menos tola,
que preste,
e tira a roupa que não veste
calça polainas azuis
e agora precisa dançar sobre a cama
um foxtrox, um raioqueoparta
um bolero

lero lero lero
que papo furado
que nóia
- esta mina lilás é jóia,
mas tem um carma, tem um carma, tem um carma...

de não suportar ver nem papeldepresente sem querer ter escrito uma obra-prima
- bula, mapa, vale-postal,
poema épico ópio romântico antídoto
rios mais ou menos caudalosos
cidades mais e menos populosas
e essa é uma praça e aquela uma figueira...

onde arrumo o poema para este mapa?

esta mina me dá dó.

Comentários

  1. Sai de baixo! Dani prova, a cada novo texto, a sensibilidade, calor, força, forma, estética e singularidade literária. VEIO PARA FAZER A DIFERENÇA, AGREGAR VALOR ÀS NOSSAS LETRAS!!!

    Sucesso, sempre, teu caminho.

    bjs, Rogéria Albrecht

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