Exército

Marcho além da linha inimiga
  em meu exército de letras
Costuro, alfaiate de verso
  que às vezes cai bem
   às vezes apenas cai
Temo a deus [adeus é triste sempre
Parto, navio apitando
 salvas
Salvo, palavras do degredo
Desejo, não sei nem quê.
Durmo sem ter - amante em resguardo.
Espanto pequenas saúvas
sentada cavando versos
- versos não gostam de ser procurados
[eles gostam de chegar.
Cartomante leio presságios,
sempre medonhos
porque rimam com trovões

Sou um pouco assim
  bélica
sinto paz com trovões
ou talvez não - sinto trovões.

O que leio nas cartas
são romances de capa e espada
o freguês nem sempre se agrada
o freguês quer pau e pedra
rosa e cravo
Cravo dentes
em carne minha
  autofágica
para me saber
Leciono meus olhos
 a ver sem cores
 cem cores
e descrever arcos em íris
Mancho a aurora
de choro
pra ter embaçado
o sol nascente

Então a visão só minha
tece cartas,
poema novo.
Enlaço o verso
e o beijo na testa
em cheio - condecorado.

e amo cada soldado...
até que um dia não.