Outro nome pra saudade

    A essa hora, em outro tempo, minha mãe fritava bolinhos de chuva. O cheiro escapava pra rua, e tudo que desejávamos era correr pra casa, tomar um banho de só lavar mesmo os pés, para que a cuidadosa mãe deixasse a gente meter a mão na bacia reluzente polvilhada de canela.
    Hoje meus pés repisam duras calçadas. Buscando identidade, farejando lirismos escondidos ou carinhos temporários - que não encontro.
    Também não mais o cheiro dos bolinhos.
    E quando chove, às vezes um cheiro qualquer de canela me engana. Em alguns becos me perco desejando o jogo de bola, os dedos topados, minha mãe a inspecionar meus pés que insistem em querer asas...
     ... e os bolinhos de chuva.

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