Uma tarde uma canção


Uma tarde... Livro apoiado nas pernas e canção pra aquecer os pés. O livro fala de medo e a música canta os conselhos de um pai. Eu, medo e coragem em amálgama, lembro de um riso qualquer que meu pai me ensinou.
Olho as paredes anônimas me rodeando sem meus quadros. Meus sons e paisagens estão longe. Aqui estão meus arranhões.
“O que você precisa está em sua alma”... a canção reza em meus ouvidos enquanto desisto do livro e do mundo lá fora, onde, de tanto me acostumar  a ter medo, sou herói. Ando temendo que não carimbem minha carteira, que não me emprestem um cigarro, que não me ouçam à mesa... e que não tenha nada a dizer.
Mudo meus critérios com o mudar do dia. Enrosco-me à cama com meus velhos sonhos ou me lanço às calçadas arremetendo contra leões. E, à noite, não olho para o céu, com medo de me enganar e sorrir. Entorno uma cerveja me confortando com o frágil, e tropeço em uns sorrisos que me apóiam pelos cotovelos.
...No fim, a música repete que tudo de que preciso é ser um homem simples e estar satisfeito.
Enquanto as paredes estranham minha presença estrangeira, e à noite sentindo frio, escondo a canção nos ouvidos e repito os conselhos.
Verifico o teto desejando o céu e eu, de pés na grama, leve. De luz, só uma estrela, a ponta de um cigarro aceso e o brilho no olho – esse que é sempre meu riso mais simples.

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