Praça
Aguardo minha sina no banco da praça. Ao meu lado um homem mastiga comovido um pão com manteiga. Seu olho é úmido. Eu leio olhos, já estou ficando especialista. Sei que ele tem saudades. Outro sujeito grita impropérios no telefone público, ameaçando a paz da praça. Mas as pessoas passam sorrindo porque é domingo. Não há sol; todos mais ou menos usam casacos.
Um grupo animado de senhores conta os resultados dos jogos, as vítimas da semana, e elogia as moças bonitas.
Eu não sou uma moça bonita, sou uma moça com um caderninho. Aliás, tudo que sou depende de ter um caderninho. Eu sorrio e choro aqui sozinha porque me lembro uma outra praça. Ou por prever caminhos. E viro letra pra contar o que vi.
Eu tenho um livro na bolsa. Mas não quero ler. Tenho minhas próprias histórias. Seis homens sentados aguardam assunto para a próxima conversa. Outros dois comentam e cospem. Como parecem crianças! Aquele outro lê, concentrado atrás de grossas lentes, um jornal fino. Eu, como avisei, não quero ler. Eles sao minhas histórias.
Aqueles velhinhos jogam dominó, como se a final do campeonato. Outros dois observam, de pé e com suas sacolinhas de mercado. Imaginei suas patroas em casa reclamando sua demora. Esperando a cebolinha pro almoço. Sorri e chorei.
O alarme toca para me lembrar da minha própria história. Tenho de levantar, recolher minhas imagens, essas praças e essas conversas que guardo na bolsa, no livro, debaixo da unha. Essa praça verde de uma cidade nova. Ao menos para mim.
Dizem que sempre ao entrar em uma igreja pela primeira vez, voce tem direito a um pedido, que se realizará. Eu, mulher de pouca fé, creio mais em praças do que em igrejas. E a cada nova praça eu respiro seus monumentos pintados, seus pombos, seus verdes, os bancos e seus homens, e as crianças que vão ao lado, tontas.
E eu rezo pra sempre ver mais praças e horas sutis em que eu, aguardando minhas próprias histórias, cruze as fronteiras de outras, e faça parte de todos nós, em colorida cópula de sonhos e esperanças.
22/04/2012
Juiz de Fora – Praça Halfeld
Um grupo animado de senhores conta os resultados dos jogos, as vítimas da semana, e elogia as moças bonitas.
Eu não sou uma moça bonita, sou uma moça com um caderninho. Aliás, tudo que sou depende de ter um caderninho. Eu sorrio e choro aqui sozinha porque me lembro uma outra praça. Ou por prever caminhos. E viro letra pra contar o que vi.
Eu tenho um livro na bolsa. Mas não quero ler. Tenho minhas próprias histórias. Seis homens sentados aguardam assunto para a próxima conversa. Outros dois comentam e cospem. Como parecem crianças! Aquele outro lê, concentrado atrás de grossas lentes, um jornal fino. Eu, como avisei, não quero ler. Eles sao minhas histórias.
Aqueles velhinhos jogam dominó, como se a final do campeonato. Outros dois observam, de pé e com suas sacolinhas de mercado. Imaginei suas patroas em casa reclamando sua demora. Esperando a cebolinha pro almoço. Sorri e chorei.
O alarme toca para me lembrar da minha própria história. Tenho de levantar, recolher minhas imagens, essas praças e essas conversas que guardo na bolsa, no livro, debaixo da unha. Essa praça verde de uma cidade nova. Ao menos para mim.
Dizem que sempre ao entrar em uma igreja pela primeira vez, voce tem direito a um pedido, que se realizará. Eu, mulher de pouca fé, creio mais em praças do que em igrejas. E a cada nova praça eu respiro seus monumentos pintados, seus pombos, seus verdes, os bancos e seus homens, e as crianças que vão ao lado, tontas.
E eu rezo pra sempre ver mais praças e horas sutis em que eu, aguardando minhas próprias histórias, cruze as fronteiras de outras, e faça parte de todos nós, em colorida cópula de sonhos e esperanças.
22/04/2012
Juiz de Fora – Praça Halfeld
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