e ninguém lê toda essa poesia

E se quando tudo terminar eu não tiver tido a asa de uma borboleta ou alguns segundos de vida respirando fora da redoma?
Frustração de poeta, porque em meu modus vivendi só posso pretender redigir boletins de ocorrência, contratos de adesão.
Com algum esforço criativo – anedotas. 
Quero no fim ter escrito um romance, mas sem nunca ter vivido um romance eu seria uma grande mentira.Quem sabe?, sou uma grande história mal contada.
Um dia, tiro do bolso o rascunho rabiscado. Por baixo do bolso, soprará o barulho do peito – o único que não mente. 
Então vou por o coração na mesa, pra enxergar melhor as cores da parede, as botas sujas, o cachorro, sem derrubar a cabeça pro lado. Por que minhas verdades são ditas com certos ângulos do rosto.
Então vou pedir pra tirar a máscara, pedir pra tirar a meia, e encostar no chão, ponta de dedo com ponta de mundo.
E todos os chãos que passaram por debaixo do meu mundo – parquinho e livro de drummond, cozinha ladrilho e bolo com anilina, salão de baile e cadeira, chão estranho sem saber como voltar, asfalto debaixo da roda, outro estado, outro estado físico, altar e patíbulo – os de cada pequena morte não anunciada, em que peguei o chapéu de volta e não quis assistir – nem quero morrer. só chorar.
Locais públicos em que os cães enrolaram-se e eu pisei firme querendo ter flutuado.
Com o coração na mesa não haverá desejo.
Rabiscarei mais veias nas linhas azuis da brochura. E talvez conte uma mentira maior que eu.


Por enquanto, não. Por enquanto eu falo a verdade.

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