só uma lembrança

Passa o vendedor de bichinhos e algodão-doce. Buzina e me acorda na calçada. O vô olharia os pequenos balões – onça pintada, ursinho cor-de-rosa, elefantinho azul sorrindo sorriso de domingo. E remexeria os bolsos. Talvez não encontrasse umas moedinhas. E iria ao banco na correria, fazendo sinal pro moço buzinador. Onça pintada, ursinho cor-de-rosa...qual? Podia ser que o banco apitasse o sinal de que não há mais fundos. O vô ia dizer que pena.
Indo embora onça pintada, ursinho cor-de-rosa, elefantinho azul buzinando o domingo.
Quase choro, mas o vô não está aqui, e eu tive apenas uma ausência.
Alguém chama o vendedor de dentro de uma casa e escolhe um algodão-doce. Trocam-se os produtos pelo portão – dinheiro, doce, troco. A criança do vô cresce longe bem alimentada, sorridente, vestindo um avental e pintando os dedos. Não há guerra no meu país e o último exame de sangue não apontou fatalidades.
Aperto a bolsa contra o peito, jesus!, ainda bate.
E eu que achei que nunca mais ia ser feliz.

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