X


X tem as unhas cortadas bem curtas, umas manchadas de antigo esmalte rubi, e no chão esboça um coração.
No ar se ouve um som de 69 ou últimos sucessos de uma banda do Espírito Santo.
X não é santa mas foi canonizada algumas vezes e tratada como isso mesmo – protegida separada isolada bendita – intocada.
X às vezes se toca de que não é isso mesmo e corta os pulsos de madrugada e no chão se entorna e não.
Mas é tudo mentira é só texto e o céu nasce de novo tão azul que é pretexto para sair de novo como uma borboletinha ou um beija-flor.
Que não beija.
X de vestido florido, no ouvido um som de 69 ou últimos sucessos de uma banda de Goiás. Mato Grosso? Minas Gerais?
O mesmo som que ouvia brincando de cavalinho bang bang  nas almofadas da sala há 3 décadas atrás.
X não é velha mas foi ficando antiga e algumas vezes tratada como isso mesmo – obsoleta arcaica sábia – inexplicada.
X escreve como se fosse uma senhora respeitável que não digita, registra tudo à mao nos bordados dos cantos de uma mesa de bar enquanto ouve histórias que não são dela amores que não são dela e boleros que lhe cortam o coração.
X de vestido florido restos de rubi beija-flor sem cheiro veias vazando – no ar seu zumbido de inseto parado no ar por instantes.
Flutua como um grande peso inalcançável sem som ao som de 69 ou últimos sucessos de seu próprio silêncio enquanto no chão se entorna e não.

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