coisas do fim

E então um abajur ferido, remendado, ou um espelho em cacos varrido embrulhado com o jornal de três semanas atrás. Só porque o amor tem essas raivas.
Os dias passaram até o limite do não esperar mais. Mas as coisas são práticas e o amor tem dessas épocas burocráticas. 
Você tinha deixado umas coisas fora do lugar. Eu olhava o céu e a marca de você na janela como algo impresso. Eu achava bom passear nos teus vestidos vazios buscando ar.
Mas os dias as noites. E você voltou para buscar. Era um livro, depois buscar o resto. Era o rosto. Aos poucos, aos poucos. 
Eu ficava parado na porta sem achar lugar. Você tão bonita no recorte da porta, olhando as estrelas antigas. Os teus olhos, a ponta dos pés. Você pintou de esmalte as unhas dos pés. Você está feliz, eu pensei comovido.
E te deixei levar muito mais do que você tinha trazido.
...
O amor tem dessas épocas burocráticas. E então você enviou email, você marcou hora. Você veio trazer algo que era meu mas de que eu jamais precisei. E levou o ventilador. 
Mais nada.
Ficou só no piso teu som de ir apagar a luz, descalça.
Ficou tua digital fazendo versos na janela úmida.
Ficou o lençol sem incêndios.

Ficou frio.

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