Guerra e paz

Para um pouco de paz um doce, uma medalha por bom comportamento. Coisas que me distraem.
Bandeirinhas que me lembrem festa, um amigo que fale de teorias, outro que tenha coleções de fobias, um livro que não abri, pronto para a hora em que eu estarei pronta – como noivos prometidos desde antes do início dos tempos, adiando o casamento. Por enquanto o céu movendo-se já me enche de tarefas.
Nos muros desenhados, poesias; nos meus pés descalços, cor. Agora, porque quis ser cor-de-rosa, quis ser uma moça que carregasse um ramalhete no meio de um campo de batalha oferecendo beijos a qualquer um que não quisesse mais apontar seu revólver. Uma louca dessas que a Tv não teria tempo de filmar, e que não estaria em nenhuma história, nem na do soldado, louca, uma louca cor-de-rosa, sem documento ou documentário.
Porque estive lutando coisas que não entendo, milícias, gases lacrimogênios. (E eu repito: “malícias..., gênios...”). Eu, que prefiro as boas notícias.
Eu, que sempre ferem com um espinho mínimo na patinha, como um bicho grande numa jaula ínfima. Que nem quero brigar, mas quero morder até sangrar a carne de um sonho louco desses que não se pode ir pra casa dormir sem - eu me contradigo, eu escrevo poesia no serviço, eu sou sozinha ainda carregando cor som um sorriso, concentrada e em rebuliço.
Não abro o jornal, mas leio as mãos, os olhares, tenho sonhos e traduzo, mesmo sem saber a língua. Eu leio as línguas. E discordo de tudo.
Eu escondo minha paz dentro do criado-mudo, depois de atar minhas veias cortadas em campos de batalhas, e me fixar sobre alguns escombros - fumegantes - segurando um chapéu pedindo contribuições para a cruz vermelha, os soldadinhos de chumbo, as bailarinas de caixinhas de música partidas, os anjinhos de asa quebrada – esses que caem das estantes, por tudo e por nada.


Pra um pouco de paz um doce, uma medalha, um vício, ter coragem. 
Coisas que me distraem.

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