histórias de amor mal contadas

Ela desenha para mim no ar linhas imaginárias explicando coisas que não sei. Faz tempo perdi a atenção. Eu a descrevo no caderno
espiral.
Eu sopro umas palavras ela morde eu dedilho o violão e, sem fazer nenhum ruído, o bico de seu seio
esquerdo. 
Eu não sinto por ela quase nenhum apego. A sua cintura está esperando que eu pouse nela minha mão.
Não pouso. 
Eu faço um desenho que nada tem a ver com ela. Ela olha para a janela tantas vezes sem ar. Entorno o resto do copo fazendo barulho ela
dorme. 
Borboletas e ventanias ao norte dela. Um cabelo como se o caos de dentro transbordasse nos
pelos de fora. As sardas pontuando como lápis frases erradas e significados no rosto dela.
Por todos os lados. Ela fica parecendo um menino em dúvida.
Dela eu lembro indecisa a torcer as mãos e morder o lábio inferior quase que ainda esperando noticias minhas.
Não mando. 
Mesmo depois que ela vai embora deixando fios no travesseiro e riscos nas minhas costas eu arrisco uns versos novos e espalho pelo ar umas fumaças pondo em ordem as roupas e os jornais os livros e suas trovoadas.
Espalho. 
Nos cantos das páginas frases dela – essas embrulhadas. Porque ela se confunde ao sair levando todo esse medo pela manhã afora, dizendo coisas que não quis e às vezes beijando um beijo improvável se desculpando levando a poeira dos nossos alvoroços 
nos pés.
Olho sua panturrilha que escapa por baixo do lençol. Para onde esses pés depois que vão embora. Depois, depois de passearem brincando meus dedos, quando eu deixo de ser furioso.
Ou pelo meu torso quando ela perde o medo.
Até que se assusta como se tivesse uma lembrança uma bússola uma âncora.
E de tanto saber para onde vai se perdesse e encolhesse os ombros como uma menina
Feia. 
Ela escolhe novos idiomas para reclamar da minha indiferença. Eu acendo mais um cigarro e ela jamais me deixa
em paz.
Ela me beija esperando um beijo não dou ela deixa o endereço 

eu perco. 
Às vezes ela volta eu deixo a porta aberta de um certo modo que sei. 
Como se tivesse uma lembrança, uma bússola, uma âncora.

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