pensamentos de um dia de sol sem céu

morre, toda vez, destes definitivos. então a noite, o dia, são uma horda inteira de tempo marchando derretido em horas, selvas de horas, que dessa friagem dela fazem cavernas por onde se esconder dentro, pra nunca ou pra sempre.
é que ela é feita de amores e palpitações, e nela tudo dói de efeito mortal e lento e mais-mais o assustar das não novidades.
pelo tempo denso, excesso de pensamento - desde o abrir dos olhos, percepção de assunto, ao cerrá-los, os dois, de cansaço ou tentativa. pra ficar assim sem lembranças é só bem no dormir, que aí ela se atrapalha e embaralha o verdadeiro, o inventado, e o que pode tanto ser como não, até que acorda dizendo não significados.
de resto, tudo o mais significa e fica. é  traduzível e distinguível, o um do outro, e o onde quer que seja, que quase nunca ela cabe ou se assemelha. porque indizível inexplicável é só ela, mendigando artes poemas ou cheiros doces, pra viver só um pouquinho, no meio, ou no fim do dia.
no começo não, que já é sempre um tanto morrido. excesso de coisas sentidas com muita precisão e falta de medida.
as vezes em que morre é sem anúncios carpideiras hinos. nem cinzas não dispersas em uma tarde soprada de vento indo.
morre sem ritos.só cansa e desvive.
da última vez que morreu foi quando ele, de raivas e malas, andou pra porta com um nunca mais, garantiu, dessa vez, pela última.
o dia invernou, o olho úmido chovendo décadas de pesares como uma cidade de conto inglês. névoa e outros idiomas incomunicáveis no peito. só desconfortos e estranhezas.
daquela vez foi que ela foi irremediável. e só umas manhãs assim, com crianças sendo felizes pisando poças d’água ou com cheiros de bolinhos, são possíveis.

(das outras vezes antes tendo morrido, de causas naturais acidentais ou de poesia excessiva, por descuido inda esquecia um sorriso).

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