pensamentos de uma noite sem estrela

eu assim feita de dor mansinha. há horas apaguei todas as luzes mas a do meu quarto pisca. meu olho pisca. meu irmão me escreve de longe pedindo uma historia pra dormir pra despertar eu não sei dizer ele me diz que ideias são difíceis. eu fico sem sono e cheia de ideias resmungos vontades de pisar descalça ou dançar avessa disfarçada descuidada mas eu sou precauções e nunca tenho rimas.
meus pés ventam tentando coragem de encontrar desses tantos por escrever mas estão sempre em outras línguas. só uso minúsculas para evitar a pompa de um novo enunciado e ficar quase invisível entre as linhas.
feita de dor mansinha minha mão batendo nestas esquinas de mesas tentando acompanhar o ritmo nestas teclas tão pouco líricas dos meios digitais eletrônicos enquanto eu queria escrever nas tuas costas tua omoplata encolhendo meus dedos dentro do teu gesto de catar as coisas.
de dor mansinha saudades e ausências batendo nestas esquinas de mim tentando acompanhar o riso nestes dias tão pouco lúcidos eu cheia de poréns enxergando o céu pelos vidros eu já duvidei de tudo mas sempre acreditei como um crente na música que faz chorar, sempre.
porque a cidade escorre meu choro e meus medos mas mesmo assim tem acordes que me amam dentro inteira.
(eu que nestes escondidos fingindo quase que não existo estico a mão e aceno para um amigo invisível ou para a cor do dia tentando alcançar uma pipa; um balão; coisas de dizer bonitas; tua mão).
tantas dessas bonitezas escrevendo em mim essa dor mansinha – é essa minha alegria o mundo não tem consertos nem meu sorriso quebrado antigo mas é mansinha essa minha alegria.
parece um tigre. um menino que desenha um abrigo. um trovão só, avisando temporal e se indo se indo, esquecido.

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