romance de ficção

é que na minha história a gente casava e colocava assim uma cortina e a gente se amava escondido dessa claridade. a gente escondia também o tumulto do dia, num vaso de flor que você arrumava. eu contava no teu ouvido umas notícias inventadas, e com as cócegas a gente ria.
você vinha de pés descalços de pelos molhados inundando a casa. e fazia qualquer doce meu preferido.
(teve dias que a gente passava só lambuzando o mundo que gira de tão bonito).
a gente ia lá fora, mulher e marido, quando a chuva parava. eu depositava em teu umbigo versos que tenho meus guardados. eu colocava de mentira um anel no teu dedo e você não duvidava. eu apertava teu corpo que chora de medo e à toa, de raio, de alma, ladrão, trovoada.
então a gente casava e eu encontrava dentro dos teus cabelos erva e cetim, coisas desencontradas. 
quando a gente casava, na minha história, você colocava esse vestido, assim, sem mudar nada. e eu desdobrava a colcha da cama toda noite e te esperava.

e de novo a gente casava, toda vida (festas, fogos, cantoria).
e de manhã eu despertava a esperar tuas pestanas,
vagarzinho,
abrindo. 
verter orvalho, brisa, duas estrelas.

luz do dia.

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