o menino solta pipa na minha memória. o tempo que de joelhos ralados ninguém tinha medo. 
tinha umas bonecas de olhos vidrados. o menino segura a corda para eu pular.
o tempo que eu pulava.
um minuto bate no outro feito bola de gude. e empurra o tempo para depois dos sonhos.
o menino anda na garupa da minha bicicleta, ah eu derrubo o menino e eu por anos tenho medo de rodas.
eu tenho medo inclusive do portão. do tudo que está fora do portão.
o menino não. o menino joga bola na minha memória. a gente fica de pés sujos e a grama grudada nas pernas.
o pai ralha que a gente voltou tarde.
pai, vai ter praia no domingo?
não, e nunca mais.
o menino faz castelos de areia na minha memória. o tempo que o vento não derrubava.
o menino outro dia mesmo fez um desenho
fez uma canção
o menino fez uma confusão.
(o menino canta baixinho na minha memória)...
outro dia então que ele fez foi uma menina.
aí percebi o tempo nos meus olhos.
... 
...vêm essas meninas me mostrar que a vida passa, passa.
meninos crescem, enquanto eu fico, roxos nas canelas
e o batom borrado.

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