para um amigo

e eu voltei pelo mesmo caminho, de calçados desbotados e desgastados, mas já sem dor, tão amoldados eles a meus pés.
por espólio ofereço alguns livros, empoeirados mas em perfeito estado, e o peso da memória. 
há poeira nas lembranças. não encontrarei no retorno o sítio exato onde tive minha primeira idade, nem meus velhos pais, minha mãe que aos poucos confundia meu nome, meu pai que desejei que morresse.
poucos outros desejos foram atendidos.
é só meu o caminho. não deixarei prole sobre nem sob a terra.
sou por assim dizer uma existência avulsa.
mas amei, uma vez. em minha lembrança ela tem os longos cachos coloridos e astros celestes nas mãos.
em meus olhos venta.
ela em meus sonhos aparece e diz que me amou em silêncio.
sigo na tarde dourada sentindo nas têmporas latejarem o sol e as estrelas.
os sonhos que foram ficando expostos nas pegadas.

talvez no fim eu saiba que a beleza dos olhos valeu a pena – eu colhi as maçãs do dia.
o fim da tarde abençoa minhas tentativas.

Comentários

  1. Feliz em vir aqui e ver que você continua escrevendo lindamente, bem do seu jeito.
    me identifico com sua escrita
    bj

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