literatura
percebo
cada vez mais que não sei escrever literatura e a bahia tem me corrompido com
suas longas solidões amarelas. não sei de versos, apenas choro linhas
esdrúxulas desabafando para amigos invisíveis as dores todas que eu consumo à
medida que o dia muda de cores. especialmente aquelas horas rosas roxas
púrpura... do crepúsculo às oito horas em ponto e suas decorrências que apenas adivinho.
nunca escrevi
qualquer coisa que tenha enredo, em geral tudo que escrevo são declarações de
amor. sutis ou aos berros. quando sinto demasiadamente, e isto é quase sempre,
o que faço é sacar polaroides de momentos em que só existir não é suficiente.
desconfio que
sou transbordante.
tenho
trinta e sete anos e ausências de carreira, companheiro, dois filhos, cão de
estimação. a decência que conservo é gostar de escutar poemas e tenho feito
disto minha atual profissão.
não tenho
plano de saúde.
não tenho
plano.
...tenho
planos mas eles se referem a performances artísticas em praça pública, para as
quais não tenho talento. não tenho talento também de olhar as pessoas e coisas
nos olhos por isso mesmo eu escrevo coisas que não são nem verdade nem
literatura. eu não sei até que ponto escrevo ou existo. como um verso errado
tomba da escrivaninha – uma coisa um pouco pequenina, amarrotada e crua.
e muito
embora eu não escreva um só conto um ensaio um poema estou atada de certos
modos a estas minhas escritas... penso que nunca soube sentir por outros meios
que não fossem feitos de papel e linhas.
(inclusive a sensação de voo ao soltar pipas).
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