de mentira
olhei em
volta o quarto e tudo nele amarrotado. eu mesma assim. escrevi um bilhete
fazendo de conta que acreditava alguma mensagem lembrando a mim mesma que já
morri de outras vezes e nunca foi verdade. e dessa vez não tinha um grande amor
pra culpar, eu não tinha você pra atirar facas
sem ponta. olhei
a ponta dos meus pés. escondi meu corpo num esconderijo feito de meus próprios
braços em orla. tive vergonha da minha fraqueza mas era tudo o que eu sabia
ser. uma ilha cercada de lembranças
de mentira.
quase tudo que tenho sou eu que invento. invento a dor como invento o amor, em
geral produzidos pelas mesmas vias lacrimais. sinto e ninguém entende como
sinto tanto. é que sou enorme gigante
por dentro.
por dentro quase tudo é profundo. quase tudo é raiz. é fome. é raro.
por fora eu
sou assim sem cor. um largo sorriso torto atingindo quinas de portas, erros de
cálculo, deixando palavras cruzadas insolvíveis.
palavras. eu.
insolvíveis.
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