escrevo porque não grito ou como enfeitar um domingo triste de sol em salvador

estou em uma cama anônima de um albergue, quarto coletivo. alguém está no chuveiro e chega até mim um cheiro bom de sabonete.

eu imediatamente perco a vontade de sair na rua porque salvador está ensolarado. e eu estou em um quarto de albergue porque na última semana eu chorei por uma hora e quarenta e seis minutos enquanto você assistia a um filme de ficção científica e então você me expulsou de sua residência. eu lembro de acordar todas as manhãs com teu cheiro de sabonete.

ontem eu escrevi que cê tem um riso, um riso de salvador de tarde. e em salvador, como neste quarto de albergue, nada é meu fora as saudades.

e um livro de poesia que comprei ontem por trinta e sete reais e oitenta centavos. calculei que com esse montante eu compraria três refeições, o que me fez refletir sobre minhas opções.

antes de comprar este livro sentei-me para pensar em você porque havíamos passeado nesta mesma calçada há uma semana e então eu tomei três cervejas caras escrevendo uma coisa boba sobre esbarrar em você de tarde.

é salvador que faz isso, eu nem escrevo assim tão sol.
             gastei os tubos tomando estas cervejas e penso em sutilmente  abertamente enviar-lhe a conta.

por acaso toca caetano. caetano é baiano, você é baiano, você gosta desta música eu penso em você cantando pra mim e a vida fica muito, muito difícil.

penso em você falando desse papo todo de espaço sideral e eu não aprendo tudo porque teu dente é torto, o dente da frente, e eu francamente fico achando tão engraçadinho essa coisa de menino que teus olhos também têm
que dou um salto quântico.

e eu sei que esse texto ficou grande eu sei que eu pareço que estou vazando.
desculpa o jeito, o derramamento de sangue.
é que você tem o riso do tamanho até do rio vermelho. 
mas eu, o espaço sideral, salvador
somos gigantes.

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