chão


trocamos palavras você intruso invadia meu quarto meu mundo só eu com todos os meus traumas meus vexames minhas peças soltas muros erguidos - eu lhe disse eu tenho uma redoma você perguntara porque eu não olhava para você...
(eu olhava para você mas era através dos meus vidros enquanto meus olhos miravam a barra do meu vestido)
e você derrubou-se em minha boca como se tivesse fome e nosso encontro como um ensaio esbarrando braços e pernas desencontrados
(apenas nossos olhos afundavam os de um nos de outro como se pertencêssemos, desde antes, alimentados)
de resto nossos corpos aprendiam-se tão corretos errando quinas e sentindo milímetros...
eu não me sabia ser tão gigante.
..
você se despediu.

EU RESPIREI E DEITEI-ME NO CHÃO PORQUE NENHUM MÓVEL CONSEGUIA CARREGAR MINHA LEVEZA TANTA NAQUELE INSTANTE.

eu fiquei de repente vasta. eu acreditei em coisas inimagináveis. eu existia e dançava em meu estômago sem nenhuma outra vontade eu era chão, deitada, eu não cabia em mais nada. tinha um vento e uma janela aberta no meu peito de onde partiam minhas anotações, entradas de cinema, pássaros.

faz tempo e as coisas em mim seguem derrubadas.

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