vida.
aguardo na
sala de espera o papel que me confirmará que eu ainda vivo e tenho saúde por
algum tempo. embora haja tantos saltos mortais como viajar na velocidade de
novecentos quilômetros por hora sobre tantas cabeças e oceanos embora seja
seguro.
embora seja
seguro a cada coisa nova que você me disser eu antes vou lhe perguntar, como se
à enfermeira que traz a bandeja com uma seringa – vai doer muito?
enquanto espero
leio um livro que há meses eu não quero que acabe – é lindo e eu fico pensando
o que vai ser quando não houver mais palavras saindo de suas cascas.
acho que a
ação de fazer poesias é meter-se por dentro das coisas
inclusive das
palavras.
o papel
chega e me comove e me dá alivio por alguns tempos como um ruído novo como um
doce uma dose como um filme de amor uma hora e quarenta e dois minutos.
porque eu
não quero que o amor acabe, não quero que ninguém acabe, não quero que salvador
acabe
e eu sinto
nesse momento que não sei onde
- dói
- devo ir.
gostaria de
nada prender-me e que algo me tocasse em um ponto que me fizesse mover-me não
como um satélite ao redor de coisa ou de dor ou de casa alguma mas como um kamikaze reverso que me atirasse às coisas
vivas.
gosto de
olhar você quando prende o cabelo. quando me prende.
há ainda muitas
coisas em mim que estão vivas.
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