duas impressões sobre as ruas


mais ou menos maio de 2019

estava para escrever há alguns dias porque o coração aperta. mas estava esperando uma paisagem. e não voltei a sair de casa. ando sem chão e sem asa.
minha mãe de longe avisa que acidentou-se está de cama eu não estou ao pé da cama lendo a ela notícias de jornal, notícias de jornal nos fariam brigar, de qualquer modo, e preferimos falar sobre pequenos animais de estimação.
envio cartas de apresentação papeis relatórios e não sei qual será meu endereço em um mês.
a vida está grande, imensa, demais, e por isso me sinto tão pequena e choro, e tenho vontade de esconder-me dos olhares da rua. a rua - meu amor - tem me ferido.
mando notícias a ninguém que as recebe e espero respostas.
crio em mim múltiplas revoluções que batem apenas na porta fechada e voltam.
enquanto isso tento enxergar o futuro jogando cartas, minhas cartas, essas que mando a todo endereço.
a seu endereço levo meus medos e me afundo tentando acrobacias de que meu corpo não se lembra mais.

***
08.12.19

Talvez seja preciso ferir-se nas quinas esquinas inconclusas de dúvidas que vão ficando para trás.
E não encontrar respostas e ir andando assim mesmo encontrando coisas que não se procura e perdendo todas as demais.
Talvez seja preciso encarar a cidade e, com todo o medo de não existir, existir o mais profundo, real e sem fogos de artifício.
Em alguns momentos achar tudo bonito. Inclusive a mim.
Em mim em que as coisas mal cabem – minhas pernas evitam parar e descansar para que eu durma – essas intensidades (se) expõem (em) meu corpo.
Tenho medos e dúvidas e grito baixinho – tenho quase opiniões sobre tudo e não me tolero por saber que não entendo nada e não tenho esses direitos todos...
(vou aprendendo a ser mais discreta à medida que os fios estão mais brancos e as solidões mais bem escolhidas).
Mas não me engano – é tudo pra um dia ainda dizer discursos sábios saídos do alto de minha cabeça colorida.
Aonde chegarei com essas minhas filosofias – por enquanto ando nas ruas comendo as paisagens
como se elas me de(vora)ssem respostas ou respeito ou confusões um pouco prazerosas – pequenos sonhos de sentir certas horas do dia e de ver um rosto conhecido
colorir-se a me ver. Passagens.

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