biografia curta

Eu nasci às cinco da manhã, contou minha mãe. Ainda gosto de olhar amanheceres. Temos ficado em casa de janelas fechadas, só abrimos quando faz silêncio. Tenho vontade de andar uns passeios, o mundo tem parecido outro lugar, e tudo que eu sempre tive foi essa capacidade de caminhar pelas calçadas e atravessar ruas.

Minha melhor lembrança de 2009 sou eu sentada em um ponto de ônibus à beira do Itajaí-Açu, escrevendo num caderninho. Eu queria escrever um poema. E antes e depois, em praças, bares, rodoviárias, apoiando pensamentos rápidos sobre a perna.

Em 1987 tenho um poema datilografado. Outros de antes, conta minha mãe, que mimeografou em um caderninho e deu aos familiares no natal, no Rio de Janeiro. Com minha mãe cantando músicas de Chico aprendi a gostar de metáforas. E quando ela deu-me um livro de Drummond eu ainda não tinha dez anos e ele tinha uma capa destacável, por dentro havia outra tão mais bonita, uma rosa dourada em baixo relevo, e ele era meu livro predileto, embora, talvez, eu só o tenha lido muito tempo depois.

Esta semana vi um artista que lia um dos poemas e chorei, e acho que fico contente dessas coisas me fazerem chorar porque acho que ando zangada e fria, muito fria.

“é feia, mas é uma flor”.

Daqui a três dias farei mais um ano. Terá passado uma década. Eu aos 30 sabia bem mais do que sei agora, mas era porque eu inventava muita coisa. Agora sou mais resumida. Tenho lido editais embora ainda acredite em metáforas. Tenho sobrevivido e sido bastante silenciosa mas alguns poemas me dão vontade de dizer as coisas.

Em 2015 no meu aniversário eu fui a banca de livros usados, escolhi um livro de poemas, fui até a praça - há muitas praças em Minas Gerais -, estava um sol morno bastante perfeito, sentei-me e li. Senti um orgulho tremendo e sorria como se fossemos cúmplices eu e o livro e olhava ao redor da praça pensando que estava tudo muito bonito. Na volta para casa tomei um sorvete colorido.

Esse ano ficaremos em casa compartilhando o fim do mundo. Mas meu mundo já acabou antes muitas vezes e depois. Estamos na Bahia e creio que logo voltaremos a ver o mar e, milagrosamente, nos salvaremos.