disneilândia

pensei tanto nos últimos dias que me dói a cabeça e tudo dói. concluí por ora que talvez seja preciso tornar-se tão forte pra poder perder tudo sem se perder. escolhi um ponto da cidade para ir de ônibus, fui: viajar de ônibus me faz calma quando posso ir sentada e por lugares bonitos. [bonitos são os prédios antigos pichados na praça da cruz vermelha, ali tudo soa como um socorro dado assim pelas enfermeiras de um campo de batalhas mas é ali que eu desejaria morar, prevendo pelas janelas dos casarões velhos amores e guerras por dentro].

um rapaz dentro do ônibus liga para a mãe e eu o ouço explicar-se, como quem se desculpa sem ter culpa. não sei do que se trata, fico imaginando o que a “gente sacana” aprontou pra ele. não é bonito mas é triste, acho que é melhor que não sentir nada. ele diz que estará logo na praça paris, que as pessoas têm “essas atitudes” e que a mãe tá ligada que ele, ao menos, tentou.

em 1 mês estarei na França mas penso na hora que eu queria saltar na praça paris e ter um romance de duas semanas. o aterro do flamengo passando pela janela com suas formas geométricas e jardins inacabáveis poderia ser bonito mas eu não, não acho, ele me faz pensar na disneilândia. em especial quando passo pela praça da cruz vermelha, uma praça vermelha, de muletas, e faixa ao redor da testa.

mas estamos no aterro, pessoas felizes carregam cadeiras de praia. crianças. smartwatches. uma jovem penteia o cabelo molhado do mar no ponto de ônibus. estamos voltando para casa.

[quando o rapaz que falava com a mãe salta na praça paris enfim o vejo e ele desce as escadas à minha frente cambaleante, uma garrafa de bebida na mão.

estamos todos o tempo todo tentando].

eu, inclusive, tenho uma poesia dentro de minha cabeça e quero levar isso a sério. mas meus pensamentos geométricos e jardins inacabáveis parecem mais uma disneilândia.

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